Poemas, Textos e outros Rabiscos


Delírio
Corpo belo, delineado.
Torneado de desejo,
Moldado por meu desejo
Por meu gosto,
Por meu modo.

Meus olhos se escondem,
Mas me denunciam
Ao te ver
Te desejar,
Te querer.
Por querer te possuir,
Como se por só um olhar
Possa te ter.

Nádegas,
Cochas,
Costas,
Barriga,
Tórax voraz,
Circundados pelo desejo.
Pelo delirante beijo,
Da íris dos meus olhos,
Pelo corpo dos meus pensamentos.

Cochas grossas,
Redondas.
Músculos.
Pêlos poucos.
Pouco louco,
Mas fortes devaneios.
Olhos verdes,
Maduros,
Castanhos,
Amarelos,
Ficam vermelhos
Meus olhos
De sede
De fogo
De colo
De cio de ti.

És jovem,
Sou moço.
És pele,
Sou carne.
És homem,
Sou louco.
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Venha


Me grite!

Pare!

Siga,

Sem medo,

Sem gelo,

Sem pressa,

Sem fome!


Com fome!

Coma,

Rasgue,

Urre,

Berre,

Seja!


Deseja !

Me deseja!

Me tomes!

Me beija!

Me olhe!

Me molhe!

Me tenha!



Busca


Tento me perder

Tentando me encontrar

Em sussurros ensurdecedores

De uma alma vazia

Cálida

Pálida

Ávida

Sedenta de sede

Com sede de calor

Exausta de frio

Cansada de dor

Cansada 
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Caçador de Mim


Busco uma forma de me encontrar

Um jeito de toca minha alma

E sorri olhando nos meus olhos

Ao ver o meu reflexo em minha própria íris

Sabendo que enfim

Me encontrei


Buscar em formas não abstratas

Em sonhos não surreais

Em visões nada fantásticas

Apenas na simplicidade

Um puro eu em mim mesmo

Em simplicidade

Um supra-sumo de mim

Sem sexo, sem roupagem, sem idade


Sem regras a seguir

Sem lemas a gritar

Nem partidos tomados

Sem odiados e sem amados


Armado somente com a alma

Pura em aura

Limpa de mim


Quero encontrar esse eu

Buscar sem procurar

Sonhar

Sem ter que acordar

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Semeador de Sonhos (Crônica)


Se eu fosse (e vou) deixar um legado, contaria um pouco sobre mim. Afinal, o que mais posso deixar aos meus do que o conhecimento sobre mim mesmo?

Sou um cara amigo, sincero, tranqüilo, respeitador que gosta de curtir as coisas boas da vida com simplicidade, e sem jamais passar por cima de ninguém, respeito as pessoas, e principalmente respeito o espaço delas.

Simplicidade. Nunca deixe de ver a perspicácia da simplicidade. É Grandiosa. Sempre encontrei nela o supra-sumo do verdadeiro sabor da vida. Em coisas simples, singelas, sempre pude ter e saborear os melhores gostos do que se aproxima de ser feliz.

Sempre fiz um pouco de cada coisa, e uma coisa de cada vez. Faça isso.

Já fiz cócegas na minha irmã só para ela chorar mais, e já fiz ela chorar; já me queimei brincando com fogo ( e há um duplo sentido nesta frase); já brinquei de colocar fogo na bucha de “bombril” e rodar ela como se fosse fogos de artifício; conversei com o espelho, e ele sempre me dava uma resposta que parecia não ser eu; e até já brinquei de ser bruxo; já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante; já acordei no meio da noite e comi tudo que tinha na geladeira; já roubei rosas em jardim da igreja.

Já quis ser cientista, artista, mágico, cantor, professor, e até Padre.  Não seja isso tudo, mas um pouco de tudo isso.

Brinque! Ria.

Já me escondi atrás da porta pra assustar um amigo. Já me assustei com muitos amigos.

Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei gripando, mas como é bom um banho de chuva e como sinto falta de fazer algo tão simples.

Fui magoado, magoei, confundi sentimentos, aliás, isso eu fiz várias vezes. E mesmo com o tempo, acho que ainda não aprendi a avaliar de fato e distinguir cada um deles. Escolhi caminhos que julguei mais fácil e acabei entrando em estradas erradas, e continuo andando pelo desconhecido.

Já raspei a sobrancelha, já me cortei fazendo a barba; já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas não são tão fáceis de esquecer já chorei ouvindo música no ônibus.

Aliás, como já chorei ouvindo música. E ri muito também. Afinal, se fosse montar uma trilha sonora para minha vida eu teria que gravar um mp3. Faça isso.

Cuidado com mentiras. Já menti, mentiram pra mim. E algumas vezes eu mesmo menti pra mim, ou melhor, me iludi tentando acreditar em uma verdade que era só minha. Por isso, às vezes acho que não mentiram pra mim, eu que não quis ver a verdade.

Já fiz juras eternas, que não passaram de alguns dias. Já vivi dias que parecem ter sido eternos.

Você nunca está só, nunca se esqueça disso. Por varias vezes já fiquei sozinho no meio de mil pessoas e sentindo falta de uma só. Tem dias que ainda me sinto assim.

Vi o por do Sol cor alaranjado e a Lua em um tom de azul que só teve naquele dia; já usei óculos escuros tentando parecer fino, mas era pra esconder os olhos inchados de lágrimas. 

Já deitei na grama de madrugada, já vi a lua virar sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos e a vida é mesmo feita de encontros e despedidas.

Entre em sintonia com a Natureza. Seja amigo do Sol e da Lua.

Quantas vezes eu olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei o meu lugar. 

O Olhar. Que poder ele pode e tem. Às vezes (quase sempre) ele diz mais do que todas as palavras já inventadas. E tenho descoberto que somos cegos para as mais belas coisas da vida. Veja o que há de bom de fato.

Já quase morri de amor inúmeras vezes, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.

Se apaixone. Eu já me apaixonei tantas vezes e pensei que era pra sempre! O ruim que o para sempre, sempre acaba.

Já chorei por amigos e por causa deles. Já tive a dor mais difícil: a de enterrar um amigo, e tentado me consolar dizendo que ali era só o corpo, mas sempre será difícil entender isso.

Já chorei vendo álbum de fotos, e ri demais fazendo o mesmo.

Tomei altos porres, passei mal, vomitei quase que meu estomago inteiro e ainda sinto saudades de dias assim.

E agora, me faço um interrogatório e pareço-me o meu próprio carrasco quando me indago: “Qual é sua experiência?”, “O que você vai levar de aprendizado?”.

Mesmo tendo derramado tantas lágrimas, agradeço aos Céus por cada uma. Cresci. Sou forte, sou homem, sou animal, sou coração  e razão, sou o cara e sou sem cara. Sou sábio e um eterno aprendiz. O tempo passou é verdade, eu mudei. Deixar para trás um outro eu, outras pessoas, foi doloroso. Mas tive que seguir, e seguir em frente sempre implica em deixar algo para trás.

Não tenho mais a vitalidade que eu tinha, não possuo toda a força da adolescência, mas não vou lamentar essa mudança que o tempo trás. Já fui sim mais novo, mas não quero ser novo novamente. O sabor da experiência é melhor do que o da incerteza da juventude. Possuo algo que sempre será jovem e me manterá assim. Pois o mais velho de todos é aquele que deixou de ter entusiasmo pela vida. E se alguém perguntar o que faço da vida, terei prazer em responder: “Sou um semeador de sonhos!”.

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Exílio da Alma



Sinto-me repleto de vazio

E esvaziado de tudo

Parece paradoxal

Transcende a loucura

Mas é extracorporal

É amarga essa doçura


Doce o sabor da verdade

Que sinto já ter saboreado

Mesmo que tenha sido um pedaço

Sei que não me lembro

Mas sei

Que fiquei inebriado

Embevecido

Satisfeito


Estou aprisionado

Em um cárcere privado

E privado desta verdade

Sinto-me acorrentado


Porém, não posso pedir auxilio

Não é bom pra mim o socorro

Sei que aprendo neste exílio

Feito de sangue e carne

Este prisão feita de mim
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Conjugando-me


Eu, sei que não posso!

Tu, sabes que não deve!

Ele, é este outro de mim.

Nós, nunca nos compreendemos.

Vos, sabes que tem que ser assim.

Eles sempre debatem dentro de mim sobre mim mesmo.

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Beleza


Sobre a luz da lua

Surge uma poesia

Filha do amor por essa serra


Reluz seus ares de magia

Encanto desigual

Única na face da terra


Mostra sua beleza

Como moça graciosa

A cortejar o rapaz


Vestida de natureza

Essa moça se enfeita

Com mágica, pureza e paz


Serra do Caparaó Encantado

Misteriosa mulher

Que nos deixa enamorados

E nos desperta desejo, encanto e fé

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Mistérios do Caparaó


Mistérios que não tem tempo

Não se sabe quando começou


Árvores andantes

Figuras vultosas

São almas errantes

Que assombram o Caparaó

Aprisionados na Serra

Foras castigados

Por terem violado

Os Domínios de Rudá

O Generoso deus do Amor

Do povo de Tamandanaré

Que sempre depositou

Em seu deus a sua fé

Mas o mesmo deus generoso

Sabe ser justo e impiedoso

E ordena a Boi-Tatá, a Cobra de Fogo

Que faça justiça

Para que de novo

Reine a paz no Caparaó


Mas também tem duendes e fadas

E as belas ninfas aladas

Que encantam nossas matas


Tem Bruxas e Magos

Feiticeiros e Místicos

Sacerdotes de todos os tipos

Mestres da natureza

Encarnados em humanos

Com a missão de mostras aos homens

Os segredos de tantas belezas


Esses são alguns

Dos tantos segredos do Caparaó

Essa é sua magia, seu feitiço

E talvez seja por isso

Que aqui sempre irás voltar
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Sábia do Caparaó


Minha Terra não tem palmeiras

Mas tem Palmito onde canta o Sábia

E as aves que aqui gorjeiam

Gorjeiam tanto quanto lá


Ah! Também tem Maritaca. 

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Pedro



São tantos eles,

Que não consigo listar.


Tem tudo quanto há de Pedro.

Te Pedro em tudo quanto há lugar.


Tem Pedro Santo

Que sobre ti,

O Cristo edificou sua igreja.

Bem, isso o Padre Sirley quem disse.


Falando do Sirley,

Tem o Pedro dele.


Gracioso, elegante

Olhos azuis e andar de galante.

Coleira vermelha, brincos de brilhante.

Um belo Siamês.

Pobre Pedro.

O gato assassinado do Padre Sirley.

Reza a lenda que até velório teve.

Disso não sei, mas que teve sermão só pelo gato, isso teve.


Mas tem também a Família Pedro.

Tem tudo quanto pensa de Pedro:

Neide Pedro,

Dino Pedro,

Juca Pedro,

João Pedro,

Lota Pedro.

Só não tem um Pedro Pedro.

Engraçado esses Pedro.


Tem Pedro Escola.

Imponente Pedro prédio Estadual.

Aqui todo mundo já passou pelo Pedro.

Que saudades desse Pedro.


Mas tem um Pedro que é o Cara.

O mais famoso e conhecido dos Pedro.

Apesar de ninguém saber quem é o Pedro

Ninguém jamais tê-lo visto,

É o mais celebre dos nossos Pedros.


Pedro é Pedra!


Sempre bem informado

Pedro é muito gentil

Divide tudo o que sabe.

Politizado! Diz ele que não é Partidário.

Se diz um Cavaleiro da Justiça.

A Dele!


Apesar de sua covardia

Por se esconder por de trás

De uma falsa coragem

Pois Pedro nunca diz quem é.


Este Pedro é uma pedra de fato.

Mas uma pedra no sapato.


É um filho das sombras.

Ou melhor dizendo:

É filho do Sombra!

Eita cidadezinha para ter Pedro.

Essa Dores do Rio Pedro.

Ops! “Preto”.
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Ecochatos e Ecoloucos


(Dedicado a Dalva Ringuier e aos Educadores Ambientais do Consórcio Caparaó)


Ouço um grito

Tão alto quanto o bater das asas

De uma borboleta

Que já não voa mais


Tal grito, que tenta ecoar

Em, e com, últimos sobreviventes

De um povo que vive e consegue ser

Os filhos de si mesmo


Esse povo sempre tentou dizer

Com seus gritos de borboletas

O que hoje todos querem saber


Eram chatos.

Eram loucos.

Ecochatos e Ecoloucos.


Hoje são sábios

E só resta-nos uma coisa:

Ouvir.

Pois é tempo de nos socorrer.

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Quero um riso mais gostoso

Quero um brilho mais brilhoso


Quero ser menino correndo na rua

Na velha área da festa


Quero brincar nas manilhas

E roubar tomates pra fazer salada


Quero brincar de nave espacial

Na maquina de café


Quer fazer show com os amigos

No palanque de pau da festa


Brinca de pique esconde na praça

De fazer caminho no barranco


Quero tomar banho de chuva

Pra lavar o corpo sujo de barro branco e calcário


Quero pular, mas meu joelho não deixa.

Quero gritar, mas não quero ficar rouco.

Quero cair.

Mas sem medo de me machucar e doer.

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Você é a certeza,

Nos meus momentos de angústia.

 A firmeza,

Nos meus instantes de fé.

 A realização,

De uma era de sonhos.

 Da escuridão,

O brilho no olhar.


De todos os

 passos, o primeiro,

De uma longa caminhada.

 O cuidadoso jardineiro,

De um canteiro em flor.

 A cura,

De uma solidão.

O fim da procura,

De uma vida,

Que esperava em vão.


 [NOTA][1]. “Aférmação” é um neologismo criado pelo autor. É a junção de “afirmação” e “fé”, seria a “afirmação da fé”. Dedicado àquele que o destino me ensinou a chamar de “Mininuh”. Obrigado.

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METAMORFASE [1]

Tornei-me forte,
Para não deixar de ser fraco.
Tornei-me bruto,
para não perder minha sensibilidade.
Tornei-me único,
para não deixar de ser mais um.
Tornei-me anônimo,
para não perder minha identidade.
Fiz-me outro,
Para não deixar de ser
Eu mesmo.









[1] Nota do autor: “Metamorfase” é um neologismo nascido da junção das palavras metamorfose e fase. Seria as “fases de uma metamorfose”


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FLORES DO RIO PRETO

A cada vez que saio
Vou para um algum outro lugar,
Meu coração trasborda alegria
Ao ver a Pajé dando-nos as “boas vindas”
Depois do serra do Furtado,
E digo-me:
“Estou em casa”
E uma nostálgica melodia toda em meu peito
“minha cidade querida, lutarei por ti enquanto tiver vida”.
E esta mesma nostalgia me remete
A lembranças ricas de risos:


Consuelo fazendo broa e nós, todos totos,
Às seis da manhã, cantando atrás da banda de fanfarra
Na festa de Abril.


Paulo Braga, sempre com seu jornal debaixo do braço
Sentando-se na pracinha do Campo
Para jogar sua bisca com os demais moradores da Ilha Grande.




Renato e Bia chegando animadíssimos para o Carnaval nas Montanhas
E eu o Jô vestidos de pijama com um colchão no meio da praça,
Rindo dos mais sérios pais de famílias vestidos de mulher,
Inclusive o querido João Ribeiro empurrando um carrinho de bebê cheio de cerveja.


Da revolta misturada ao riso e ao mistério
pelo assassinado do gato do Padre Sirlei.
E a Vó Deca sempre o acalmando.


Das histórias do Seu Manoel Nunes
Tantas sobre a política da cidade
Que mesmo passado o tempo, sempre se repetem.


Das festas fora que todos já tinham partido para elas
E nós íamos na casa do Waltinho tarde da noite
Para ele nos levar, de táxi, que acabava sendo muito chic chegar assim.


Das boas risadas com a Margarida do Bem Vindo,
Sempre com uma história boa e nova sobre os riopretenses,
Claro, não é fofoca, é relato.




Das noites de bebedeiras no Tita
Que depois de certa hora começa a fechar a porta, varrer o chão,
E nós não se preocupando com o horário. Somos sócios.


Das tantas festas com meus meninos,
Das broncas que eu dava, e para não tê-las
Eles sempre davam um jeito de me jogar no meio da bagunça.


Das converças quentes e inteligentes na fria pracinha
Que não tinha ninguém
Mas nós estávamos sempre lá, sempre com assunto.


Dos visitantes e amigos,
Que vinham uma vez conhecer e queriam sempre ficar mais
E já eram amigos de todos na cidade.




Dos bons aprendizados
Dando por Dalva Ringuier
Para cuidarmos melhor sempre de nossa terra e de nossa gente.


Das brigas por política,
Onde todos se tornavam inimigos,
Claro, só até o dia das eleições.


E tantas outras e muitas histórias,
Que se relatadas ponto a ponto,
Personagem por personagem
Ficaríamos por dias, meses, anos
À relatar tantos choros e risos.


Por isso sempre quero ver essa minha cidade
Abençoada pelo “Majestoso e Imponente” Pico da Bandeira
Pelas graças da Serra do Caparaó
Como um belo jardim
Das minhas Flores do Rio Preto,
Pois Dores, só de saudade dos bons momentos.


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Imaginação

És tu oh cavalheiro distinto
Disfarçado de criança
Que me indaga nesta dança
Conduzindo-me ao delirar
Pedindo minha mão cansada
Acreditando que no fim desta jornada
No interrupto fim da dança
Peça-me que o acompanhe
Na caminhada que não pode
E jamais irás parar
Pois te procuro em outro
E queria que fosse ele
No instante em que me beija
Para sempre o outro ele seja
Já que sei que não és
Pois é outro que a beijar estais
Talvez pensando em mim.
-Pare podre ser!




Dedicado a "Marli".


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MARCA

Sou sua cicatriz que te faz lembrar,
Do quanto sou o único
Que lhe pode amar
Não este amor mortal,
Tão real!
Mas este que se confunde com o tempo,
Com a razão.
Que nos faz lembrar
Com esta emoção.
Sou teu fogo que arde, lhe queima,
Lhe faz sentir-me perto.
Mesmo com tempo e a distancia.
Nunca nos separamos, estou certo.
Estou em cada delírio,
Cada pensamento.
sou seu sonho bom,
seu tormento.
Sou sua marca corrosiva.
Marcada a ferro, a fogo a fio,
Em carne viva.


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Texto em agradecimento A Bárbara Perez, que dedicou sua obra “Loba” a este amigo e tão fiel Afilhado Poético.
Tal qual a um arlequim que vem sem ser esperado, peço licença a todos para esta breve quebra de protocolo. Mas o que é o artista se não suas tantas quebras de protocolos impostos pela sociedade no decorrer de tantos séculos.
Uma excelente noite os distintos membros desta mágica casa de Letras, ao Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal, membros do administrativo deste tão querido município, demais autoridades, senhores, senhoras, uma boa noite.
A arte tem nos ensinado dia após dia com todas essas invalidações de idéias e formas de agirmos.
Mas vamos aos fatos.
Zeus, o Senhor do Olimpo, estava cansado e entediado, quando olhou para o povo Grego que tanto suplicava por sua ajuda e benção. Mas Zeus não entendia muito o anseio aquele povo. Então resolveu unir sua benevolência de deus e o seu enfado. Pediu a Apolo que criasse Nove Musas para inspirar e ensinar àquele povo. Doutrinar a eles o que era necessário para sua evolução e aprendizado. E assim Apolo fez. Criou as nove musas:
Urânia – a astronomia e a metafísica;
Clio – a história;
Polínia – a eloqüência;
Érato – a poesia leve;
Calíope - a epopéia;
Euterpe – a música;
Terpsícore – a dança;
E claro, Melpomene – a tragédia e Thália – a comédia “.
“A missão dessas duas últimas era dar a luz ao Theatro, para que além de divertir os Deuses com seus contos escritos por Érato e Calíope, acima de tudo era a de representar através da arte cênica as dores e alegrias de um povo quando este não tiver quem ou a oportunidade de expressá-las”.
Esta é a principal missão de todos nós artistas. O artista não é só aquele que vemos nos filmes, na TV e no Teatro. Artista é todo aquele que usa da arte sua principal fonte de vida. E de vida espiritual, a nutrição da alma.
Artistas não precisam de toque ou da visão para se comunicarem e se conhecerem. A cada vez que lemos os desabafos poéticos de Mario de Sá Carneiro, nos sentimos mergulhados em sua alma. A cada boa história lida nos livros de Jorge Amado, nos sentimos em plena Salvador e vivendo o intrigante velório de Quincas Berro D’água. Ou nos arrepiamos e nos embebêssemos com os prazeres carnais contidos na Comédia da Vida Privada de Nelson Rodrigues.
A arte tem o poder de aproximar pessoas e lhes mostrar o quanto podemos ser quem quisermos no mundo mágico da arte, e trazer a tona, para a realidade toda a forma artística de viver a vida com cada gota de emoção e verdade. Afinal, não se chega à conclusão se a arte que imita a vida ou é a vida que imita a arte. Pois eu me atrevo, como artista, a responder-lhes: é tudo a mesma coisa!
A vida é uma peça escrita pelos Deuses que são os Grandes Diretores que nos convocam a encenar cada ato de nossa existência. Nossa cidade, nossa rua, são os cenários; nossa família e amigos são nossos coadjuvantes de tanta importância para nossas mais belas cenas. Mas o texto, o enredo, cabe a nós escrever e delinear cada cena. Nos é dado esse presente de escrever a nossa história.E cada obra de arte, quadros, esculturas, livros, encenações, o circo, “o Teatro”, são os portais que nos colocam diante desses Deuses para que possamos refletir sobre nós mesmos.
Eu agradeço aos Deuses Sagrados por ter escalado esta minha tão amada Madrinha Poética, minha tutora Bárbara Nômade para me auxiliar a escrever os melhores atos desta nossa peça. Bárbara não é só uma grande crítica de meu trabalho, é uma incentivadora de meu talento. São poucos os companheiros de cena que tem o potencial de fazer de nosso texto um espetáculo à parte. Bárbara Perez, a Nômade. Seu próprio nome já nos remete a sua essência. Seu nome já expressa toda sua grandeza e presença de espírito. A sádica Grandeza de beleza e magnitude que brinca com estes meros mortais; e Nômade, a peregrina. Então: a Grande beleza que percorre as almas.
Como sou filho das coxias, lhe conto um breve histórico para, com o teatro, lhe agradecer.
Quando o Teatro Municipal da Cidade do Rio de Janeiro estava em seu inicio, os atores não tinham acesso ao palco antes dos espetáculos começarem. Mas eles queriam saber se auditório estava lotado ou não. Então eles desciam até os porões do prédio para de lá verem a entrada do Teatro. O que eles conseguiam ver era o chão da entrada principal. A visão era apenas as fezes dos cavalos que compunham as carruagens que deixavam seus proprietários na entrada do prédio.
Portanto quanto mais fezes, mais carruagens, mais carruagens, mais pessoas, mais pessoas era sinal de platéia cheia. Então nasceu a tradição de antes dos espetáculos, os atores desejavam “merda” uns aos outros.
De todo o coração, com a alma poética contida nesse reles arlequim, desejo a este lar de cultura e à minha tão querida Madrinha Poética, teatralmente falando: “Merda!”.
A sua homenagem a mim, querida Tutora, torna-me mais do que feliz em saber de seu carinho por reles poeta. Mas não recebo este carinho sozinho. Esta comigo, em espírito e em meu coração:
Minha mãe: Ana Maria Pacheco. Meus tão queridos amigos, Jocimar do Carmo, Alan Alves, Mariana Beatriz, Doca Faria, Hélida Luna, Carolina Moreira, Felipe Chambela, Wanderléia Garcia, L.C. Pirovani, Naor Soares, Vanessa Lopes, Maxwel Riva, Junior Paradizo, Shayana Rouxinou, meu querido Anjo Eberton Ruchdeschel e a todos os membros de meu Clã, a nossa familia que os Deuses permitiram escolher e outros tantos que estiveram aqui em meu palco comigo.
Originalmente este texto foi dedicado a meus meninos do Grupo de Teatro “Dramática Loucura”, grupo este que eu formei em Dores do Rio Preto e digo: aprendi mais com eles do que eles mesmos imaginam. Mas receba-o também como seu agora como forma de homenageá-la nesta tão cheia de fábulas noites desta casa tão rica em contos, estas linhas simples, mas que nos descrevem com a precisão da essência dos Deuses.
Dramática Loucura
Tenho um pacto com os Deuses da arte. O dever de sonhar. E acreditar sempre em meus sonhos. Pois mesmo sendo a única platéia que possuo, tenho que armar a prata e pedrarias, mirra e ouro, o melhor espetáculo que posso arquitetar. Crio cenários, figurinos, personagens, para fazer e inventar meu texto. E assim receber o que me é dado, nem que seja de mim mesmo: Os aplausos de meu próprio ser.
Sou Lúdico...
Sou Cênico...
Sou Dramático...
Sou Louco...
Teatro é a Arte de dizer o que deveria ser verdade
Dedico a minha tão amada Madrinha e Tutora Poética, a nossa Peregrina e Grande beleza que percorre as almas, Bárbara Perez, a Nômade.
Uma Boa Noite a Todos.
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Jogo de Cartas

Caí o Rei de Espadas,


Sobe o Rei de Ouros.


E a Rainha louca sempre dá um jeito de reinar






Seus súditos, meras cartas


Só são usadas para o descarte.


A cada rodada usa-se mais os curingas


Para sujar o jogo


E mesmo assim, é canastra fechada


Onde reina o Rei de Paus


Que combina com sua cara


Mas que vale tal qual o de Copas






Reino onde só a Dama, o Valete e o Rei reinam


As meras cartas só servem para contagem


Uma a uma...


Elas caem sem saber para onde,


Só fazem canastras


Fechadas pelos Reis






De quando em vez aparece um Rei de Copas


Com coração bom e jogo limpo.


Mas um jogador logo dá um jeito


De trancar o jogo e fazer sua trinca


Onde os Reis de Espada impõem suas ordens






Caí o Rei de Espadas,


Sobe o Rei de Ouro.


E a Rainha louca sempre dá seu jeitinho


De continuar reinando.

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PASSADO IDIOTA

Ao ver os viajados contarem
De aventuras que por lá passaram
Me pergunto o que faço aqui
Num lugar que não tem nada
Nem pra oferecer
Nem pra mostrar
Penso que será
Que perdi tanto tempo
Ouvindo a tia Dalila falar:
“Que saudade daquele tempo!”
Como alguém pode ter saudade da mesmice?
E até fiquei surpreso
Quando ela me disse
Do baile dos Branco
E o Clube dos Preto
Que não ia Preto no Branco
Mais sempre tinha Branco nos dos Preto...

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Um Anjo

Dedicado ao querido amigo Eberton Ruchdeschel, 

meu sempre querido Anjinho.



Por tantas vezes roguei
Que dos céus descesse um anjo
Para que feliz me fizesse
Sentir o que nunca senti
Com seu jeito de menino
Esse anjo um amigo se fez
E tal qual um golpe do destino
Amizade em amor se fez...
Me apaixonei por um ser
Que sempre soube o que quis
E aquele amor que eu pedia
Mesmo calado era o único
Que me entendia
Mas como pude acreditar
Em um amor que impossível era?
Por um anjo me apaixonei
Era amor impossível, mas sonhei
Só me resta o bem fazer
Para que juntos fiquemos:
Quando de amor eu morrer


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TIC-TAC
Tic-tac
Incessantemente me diz
Tic-tac
Te quero como nunca quis
Relógio maldito
Me faz esperar
Dia após dia
Já não posso parar
Tic-tac
Me diz todo tempo
Tic-tac
Me traz sofrimento
Como quem dissesse
Que o culpado sou eu
Como se me condenasse
De um crime não meu
Tic-tac
Me ponho a escutar
Tic-tac
Para te esperar
Tic-tac, tic-tac...
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CASA DO THÉO

       Dedicado a Théo, Jô, Alan, Leonardo, Gil, Jovana, Silene, Cimá, Claudinha, 

Jura e tantos outros dos “nossos” que pela Casinha da Roça passaram. 

Mas especialmente a Cristina, que não viu o pé de ficxos crescer.





 Pode até ser só uma casa
Mas para nós não.
Mais que um lugar
Um recanto, um lar.


Mesmo com tantos copos
Mesmo com cinzeiros cheios
É um lugar material
Que se tornou espiritual


Talvez por verdades afloradas
Dos emotivos corações que devoram
Sabendo que um lugar no cafundó
Todos se tornarem um só


Dói ao sair de lá
Vivendo a esperança de voltar
Tantos aqui passaram
Energias aqui presentes
Com suas emoções e sofrimentos
Aqui encontram acalento




Saudades do que não volta
De quando abrir a porta
Com um lindo sorriso
Théo me recebeu


Uns não poderão mais vir
Porque rumaram ao eterno
Mas sempre iremos sorrir
De presenças tão ternas


Ela viu tanto choro e riso
Talvez seja por isso
Que na serra sempre quero voltar
Para o nosso Lar Doce Lar


Com um dono só
E um pedaço de cada um
Na casinha ao pé da serra
Sempre caberá mais um..
Oh Deus! Quem me dera!
Viver nesta casinha da Serra
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CACOS
Oferecido ao amigo e irmão Jocimar do Carmo

Resoluto indago-me:
Que ser é este,
Que ao recolher seus cacos
Pode-se então perceber
Que, à junção de seus pedaços,
Forjamos nosso próprio ser?
Embora ignoremos
Que somos parte de um todo,
Todo o resto,
Em nosso ser está.
Por isso, revolta-me
Quando me indago:
- Quem sou eu?
E a mim próprio respondo:
- Tu és todos os pedaços
do teu próprio ser...
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o Pouco

O pouco é tão pouco
Que, de tão pouco,
Faz tão pouco
A ponto
De nos mudar um pouco
Para que um pouco de nós
Possa desatar os nós
Para lembrarmos,
Que somos pouco.
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PASSADO IDIOTA

Ao ver os viajados contarem
De aventuras que por lá passaram
Me pergunto o que faço aqui
Num lugar que não tem nada
Nem pra oferecer
Nem pra mostrar
Penso que será
Que perdi tanto tempo
Ouvindo a tia Dalila falar:
“Que saudade daquele tempo!”
Como alguém pode ter saudade da mesmice?
E até fiquei surpreso
Quando ela me disse
Do baile dos Branco
E o Clube dos Preto
Que não ia Preto no Branco
Mais sempre tinha Branco nos dos Preto...

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CARNAVAL


Já não posso me esconder
Entre aqueles que passam
Por despercebidos sem perceber
Que neste baile de máscaras
Sabes quem sou,
E sei quem é você.
- Me reconheceu?
Sei que sim, é claro.
E mesmo com este meu disfarce
Tão rico em seus detalhes
De anjo errante,
Meu olhar é o mesmo
Aquele de sempre,
Para sempre penetrante.
Sabes como me descobrir,
Embora passando o tempo
Sei que continuei o mesmo
E, sei, continuas o mesmo,
Sei que também não mudastes..
Escondido nesta fantasia de Pierrô
Palhaço triste, que só sabe fingir
Ser feliz para a todos agradar
Mas sinto que estás cansado
De tanto fingir
Basta de festa!
Esta na hora deste baile acabar!
Venhas comigo neste caminho
Pares de sofrer, nobre palhaço,
É tempo de se desmaquilar.
Velho preconceito
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MUNDO NOVO(1)

Que bom chegar aqui
Com os pés felizes
Ao tocar este chão




E espero que me dizes
Se há no mundo lugar tão bom
Com esta cor
Com este tom




Tom dos pássaros
Que não se cansam
De cantar aos que passam
Como se boas-vindas
Dessem a quem chega aqui




Nesta linda terra
Que escondida na selva
Guarda segredos da juventude




De não envelhecer por viver
Na sempre plenitude
De jamais se aborrecer




Quero sempre vir aqui
Com alegria nos olhos
De sempre chegar




Nesta serra floréstica
Tornada poética
Talvez pela Serra
Pela mata ou pelo povo
Deste lindo Mundo Novo.


















(1)Nota do autor: “Floréstica” é um neologismo criado pelo autor. Ressalta a poesia das florestas. Fazendo bom uso do verbo “dizes” para dar sonoridade ao poema, já que gramaticalmente o correto seria “digas”.


[Poema] escrito em Mundo Novo, Distrito de Dores do Rio Preto-ES, e dedicado àquele que me ensinou a amar este lugar tão mágico, este mundo tão novo. Por que, então, não falar deste Mundo Novo? Obrigado, Théo.


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PALCO DAS ILUSÕES

Achei sinceramente
Que eu voltaria a sorrir
Mas a tristeza lentamente
Pôs o mundo a cair sobre mim
E mostrou-me que nada sou
Só uma solitária personagem
Interpretando seu papel
Sem saber que nesta montagem
A única companhia que teria
Era a lua sobre o céu.
Encenei um alegre sonhador
Que achou que poderia
Brincar de sorrir
Mas depois de desabado o palco
Descobriu desperdiçados
Seus sorrisos por aí
Misturou todos seus sentimentos
Para expressar sua emoção
Mas desvanecidos como pluma ao vento
E partiram teu coração
Chorou ao rever suas emoções
Descobriu eternizado num monólogo
Em seu palco das ilusões
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A Arte da Farsa

“A Fúria é um estado de espírito que nos mostra o quanto somos frágeis, quando nos colocamos diante de algo tão forte”.

Por muitas vezes me decepcionei com pessoas por estas mentirem para mim. Já padeci, como tantos, por ter sido vítima da mentira dita por alguém que eu não esperava que o fizesse. Não comigo...

Sempre fui um guerreiro na interminável batalha da verdade contra a mentira. Mas como a guerra é uma arte, e já que no caos aprendemos muito sobre o que é equilíbrio, também pude cotejar e até mesmo aprender um pouco sobre a mentira. Principalmente sobre aqueles que mentem.

Eu sempre fiz uso de um ditado que diz que “dentro da sua razão todo mundo tem razão”, e uni este com meus raciocínios sobre os ditos mentirosos.

Mentir acaba por ser da natureza humana. Uma forma de defesa. Não podemos desanimar graças a nossas percepções sobre os humanos. Após muito minudenciar, pude constatar que, por muitas das vezes, a mentira é a única forma de alivio da dor que estes ditos mentirosos possuem. Que a omissão da verdade é o caminho que eles encontraram para se esconder de suas dores e trapalhadas. Hoje já não possuo raiva das pessoas que me envolvi no passado justamente por isso. Eu após ter passado por todas as mentiras e omissões, eu pude aferir o quanto às mentiras que me contavam eram as verdades que queriam acreditar. Que as omissões da verdade era a forma que encontraram de se refugiar de suas dores. Como sou de Teatro, que de uma certa forma não deixa de ser a arte da farsa, fui questionado certa feita. Brincaram que não é aconselhável acreditar em um ator, ele pode estar encenando. E respondi dizendo meu mais singular jargão que diz que “Teatro é a Arte de Dizer o Que Deveria Ser Verdade”. E para ser mais claro ainda, eu peço que reflitamos sobre a mentira dita. Que não tomemos uma atitude drástica e julgadora antes de ao menos tentarmos entender o porquê do uso da mentira.

Nosso dever como humanos é aprendermos uns com os outros, inclusive com os erros cometidos por ambos. Não acredito que alguém deva ser julgado por apenas um ato cometido. Creio que o que temos que fazer quando amamos alguém que nos mente, é mostrar e auxiliar este a enfrentar a mentira.

E claro, continuarmos na luta para que a espada da verdade sempre seja usada