sábado, 22 de setembro de 2012

O poder do chapéu de palha.



Por Com. D. H. Giovanni


Algo me deixou com uma curiosidade acadêmica esses dias.
Dando esses “bordejos” pelo facebook e percebendo a conversa das pessoas nas ruas da cidade, percebi algo de fato curioso, e no mínimo interessante.
Próximo a minha casa, na Ilha Grande, em Dores do Rio Preto, tem uma pequena pracinha, onde senhores se sentam para jogar baralho, damas, dominó... Uma cena tipicamente interiorana e bastante cultural em cidades pequenas. E claro, estão sempre conversando sobre assuntos variados.
Noutro dia estavam falando de política, uma vez que o período fomenta esse tipo de assunto. Mas o curioso foi a fala de um dos senhores.
Sendo simpático a oposição (politicamente) à atual administração o senhor em questão estava comentando que iria usar com mais frequência um chapéu de palha, uma vez que esse é um símbolo do cidadão campista, o “homem da roça”, como dizemos por essas bandas do Caparaó. Além do fato do candidato da oposição, senhor José Clarindo e seu vice, Sr. Sebastião de Oliveira, também são homens do campo, sendo produtores rurais muito bem conceituados e admirados no município.
Até ai tudo bem.
Fui então a um salão de beleza, ambiente tipicamente feminino, frequentando por (em sua maioria) por senhoras e senhoritas, que vão se embelezar. Estando em período de festa na cidade, esses ambientes ficam ainda mais cheios. Mas o interessante é que esse mesmo assunto era pauta no ambiente. Algumas senhoras estavam combinando de usar chapéu de palha ou incentivar seus maridos, filhos, namorados e irmãos de também usarem como ícone da manifestação política.
Ao chegar a minha casa, vi uma postagem no Facebook onde dois amigos também combinavam de usar o chapéu.
Fiquei encantando com esse objeto de estudo.
O quanto um objeto tem o poder de se tornar ícone de uma manifestação, tanto pessoal quanto coletiva da vontade de um grupo de pessoas.
Para REIS e MARTINS (2011) “os símbolos, enquanto elementos de conhecimento e comunicação, são instrumentos de integração social. São eles que tornam possível o consenso acerca do sentido do mundo social, o que contribui para a reprodução da ordem”.
As pessoas se identificam através de linguagem e uso de símbolos, e assim, desenvolvem a integração e a interação de seus conceitos e ideologias.
Para Melucci (2001), as articulações das coletividades se fazem sempre mais sustentadas no uso da linguagem e dos símbolos antagonistas que exprimem, no campo simbólico, uma resistência aos códigos estruturantes da lógica hegemônica. Isto por que:
nas sociedades com alta densidade de informação, a produção não diz respeito somente aos recursos econômicos, mas investe em relações sociais, símbolos, identidade, necessidades individuais. O controle sobre a produção social não coincide com a propriedade por parte de um grupo social reconhecível, mas se move, ao contrário, rumo aos grandes aparatos de decisão técnica e política” (Melucci, 2001; p.79).
Como fiel estudioso da Geografia, principalmente a Geo. Humana, área que sou fortemente inclinado, fico fascinado pelo poder que a população tem e faz muito bem através do uso de símbolos, que podem passar por despercebidos aos olhos de quem não se atenta a isso.
Aliás, não se atentar às necessidades da sociedade, hoje em dia, torna-se um erro terrível aos arrolados e diretamente envolvidos com o processo político, tanto em âmbito municipal, quanto estadual e nacional.
Parabéns a população de Dores do Rio Preto, que sempre me surpreende com sua criatividade e dinamismo.  É por isso que acredito tanto na força deste povo, que se espelha no homem do campo, que é à base de toda nossa sociedade.
Segundo o site da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) “Em 2009, aproximadamente 60% dos alimentos que faziam parte da cesta alimentar distribuída pela Conab originaram-se da agricultura familiar.” (CONAB, 2012).
Temos que ter no poder publico pessoas de fato empenhadas em colaborar no processo de desenvolvimento do homem do campo, da comunidade rural. E isso, para o poder público não é uma tarefa tão difícil como aparenta ser, uma vez que vemos poucas ações de fato que garantam o desenvolvimento do meio rural. Leis de incentivo fiscal, acessória técnica, projetos que visem a valorização econômica dos produtos agrícolas produzido no município, melhores estradas, acesso a financiamentos e linhas de créditos, fomentar a criação cooperativas e associações, enfim, dar meios que o homem do campo possa se autodesenvolver. É óbvio que se a zona rural se desenvolve, toda a cidade se desenvolve junto.
Alguns meios para isso tornam-se mais fáceis tento parcerias diretas com a comunidade rural que tem muito a nos ensinar. Para tal, acreditamos que um meio que possa ser utilizado na busca da associação entre a ciência e as comunidades, no meio rural, por exemplo, podem-se aplicar as metodologias do DRP – Diagnóstico Rural Participativo.
“O Diagnóstico Rural Participativo (DRP) é um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as comunidades façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar o  seu planejamento e desenvolvimento. Desta maneira, os participantes poderão compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim de melhorar as suas habilidades de planejamento e ação. Embora originariamente tenham sido concebidas para zonas rurais, muitas das técnicas do DRP podem ser utilizadas igualmente em comunidades urbanas.” (DRP, 2006)
São ações simples, para quem tem um corpo de funcionários que estão prestando serviços à população. Afinal, esta é a finalidade dos profissionais que trabalham no setor público.
Temos que dar mais valor a este personagem, que literalmente coloca nossa comida na mesa e alimenta esta nação.
Portanto, sim. Que usemos nossos chapéus de palha e tenhamos então orgulho de ser rurais. Vamos pregar o pertencimento e o amor a nosso município.
Parabéns ao povo de Dores do Rio Preto, e parabéns ao Sr. José Clarindo Moreira e ao Sr. Sebastião de Oliveira.




Referências:
Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125&t=2>. Acesso em 08 de agosto de 2012.
MELUCCI, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Petrópolis: Vozes, 2001.
VERDEJO, Miguel Expósito. DRP – Diagnostico Rural Participativo – Guia prático. Disponível em:<http://portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/livros/Guia_DRP_Parte_1.pdf>. Acesso em 25 de agosto de 2012.
REIS Alcenir Soares dos.  ARTINS, Ana Amélia Lage. Movimentos sociais, informação e mediação: uma visão dialética das negociações de sentido e poder. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out09/Art_04.htm>. Acesso em 22 de setembro de 2012.

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